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A análise serve para qualquer sintoma?

  • Foto do escritor: André Cabral
    André Cabral
  • 18 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 3 de nov. de 2020



Escutei, algumas vezes, que a psicanálise se constitui como um tratamento demorado, como se essa prática não objetivasse resultados imediatos, mesmo quando estes parecem possíveis. Tal opinião advém, inclusive, de estudantes e profissionais da psicologia, que distinguem as abordagens com base nos sintomas apresentados. Mal se escuta “síndrome do pânico” e, imediatamente, esganiçam: “Terapia comportamental cognitiva!”. O mesmo ocorre com a psicanálise; quando se escuta falar de repetições amorosas, esgoela-se: “é o seu Édipo, tem que tratar esse complexo!”. Assim, o sintoma parece prescrever o tratamento. As fobias são tratadas como problemas comportamentais, e as repetições amorosas, como inscrições arcaicas da relação com os pais. Essa perspectiva, porém, deve ser melhor debatida.


É improvável que um analista mencione que não deseja produzir resultados o quanto antes para seus pacientes. A questão, no entanto, é que, para a psicanálise, entra em jogo a própria concepção do sintoma. Retomando a literatura de Freud, encontra-se o caso Hans como um representante clássico de fobia infantil. O garoto tinha temor de sair à rua, por medo que o cavalo lhe mordesse o genital. Evidentemente, pouco adianta dizer que o medo de uma fobia possui pouca ou quase nenhuma razoabilidade – o quase parece sempre introduzir a marca e o tom de realidade. Parece, igualmente, difícil limitar a fobia a uma experiência desagradável com o objeto fóbico; não se encontra tal correlação de modo tão explícito na clínica.

Com Freud, descobriu-se que a fobia se inscrevia como possibilidade de interdito para a criança. Tratava-se de retirar um objeto enraizado e fixo para lhe restituir um objeto permutável – o falo. Lacan, entretanto, ressalta que Hans se encontrava num estágio um pouco anterior, que não se configura como o desparafusar e parafusar do pênis, mas de outro objeto em questão – seu traseiro. Hans encontra uma saída mais pela sublimação do que pelo recalcamento. O garoto, então, daria luz à sua arte.


Assim, o que nos importa acentuar no caso do garoto é que, para a psicanálise, trabalhar a partir da dessensibilização de Hans, levando-o à rua, ajudando-lhe a tocar em cavalos, diz pouco da condução de seu sintoma. O mesmo diremos para situações análogas, como agorafobias e medos específicos em síndromes do pânico. Existe, portanto, uma amarração do sujeito que diz mais do que o simples fenômeno do medo em relação aos objetos.


 

André Cabral André Cabral é psicanalista e faz atendimento clínico na cidade de Uberlândia e Araguari. É docente no curso de Psicologia da Faculdade do Trabalho (FATRA). Atende adolescentes, adultos e idosos frente aos mais diversos sintomas e sofrimentos psíquicos. Trabalha, ainda, com atendimento a casais e apoio voltado para a “orientação profissional” de adolescentes. Atualmente é doutorando em estudos psicanalíticos pelo programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem interesse na interlocução entre psicanálise e cinema, literatura, teatro e política.

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