Nas últimas eleições do Conselho de Psicologia, muito se debateu sobre as diretrizes que asseguram o código de ética do Psicólogo. A família e a sexualidade foram objeto de grande discussão e interlocução, exigindo que os profissionais da categoria se manifestassem com relação à própria prática clínica. O debate, todavia, transcende os portões do conselho, estendendo-se para a sociedade civil como um todo.
Nos últimos anos, temos escutado, cada vez mais, sobre a suposta derrocada da lei paterna no ocidente. Pela compreensão de que ocorre o declínio do pai, na atualidade, muito se tem dito sobre um possível retorno ao patriarcado, como se o mal-estar social fosse decorrente da perda da potência fálica do genitor masculino. Essa perspectiva incide direta e indiretamente na ascensão de perspectivas ideologicamente contrárias à pluralidade e a singularidade do desejo. Frente às interrogações impostas pelo mundo contemporâneo, é imprescindível estabelecer e interpretar o que a psicanálise compreende como a função do pai na estrutura psíquica.
Sabe-se que Freud recorreu à peça Édipo Rei, de Sófocles, com intuito de contextualizar e melhor explicar o material clínico emergente no decorrer do tratamento de seus pacientes. Assim sendo, o autor instituiu o Édipo como pedra angular da psicopatologia psicanalítica. Enquanto objeto ilustrativo do desenvolvimento relacional infantil entre criança e cuidador, o mito edipiano assegurou para o centro da teoria psicanalítica a existência de desejos constitutivos e universais. Ora, mas como pode uma peça escrita quatro séculos a.C ser interpretada segundo a perspectiva ocidental de Viena, no início do século XX? E, mais, como poderíamos tomar a tragédia grega para compreender o sujeito da atualidade?
Na cultura ocidental, o complexo de Édipo ficou conhecido principalmente a partir da relação de amor e ódio às figuras parentais da mãe e do pai. Mas não há aí uma formalização burguesa e heterossexual da família no ocidente? A família tem tomado novas vestes, tornando-se monoparental ou, ainda, composta por casais do mesmo sexo. Fora da cultura ocidental, veremos um modelo ainda mais ampliado e diversificado. Logo, interrogaremos em medida o Édipo permite interpretar as múltiplas formas de apresentação da família no contemporâneo. Trata-se de investigar se a psicanálise é uma teoria capaz de compreender as relações entre o sujeito, o desejo e a lei.
Assim sendo,(1) questionaremos se há declínio do pai para a psicanálise. Desse modo, (2)investigaremos o que permite ou permitiu que a lei paterna reverbere de modo tão problemático para a cultura. Em seguida (3), interrogaremos como é possível compreender o conceito de Édipo para além da dimensão restrita da família vienense. Faremos um percurso pela obra de Freud e Jacques Lacan com intuito de melhor elucidar o objeto em questão.
Possíveis interlocuções para o primeiro semestre de 2020. Temáticas a serem decididas pelo grupo.
O complexo de Édipo e a Castração em Freud
O Édipo antifreudiano de Lacan
A sociologia de Durkheim na psicopatologia lacaniana
O Édipo para Foucault
O Édipo no estruturalismo: Lévi-Strauss,Saussure e Lacan
A função paterna e a função materna
O falo imaginário e o falo simbólico
A metáfora e a metonímia nos três tempos do Édipo
O inconsciente estrutura do como linguagem
A estrutura algorítmica da letra: a cibernética lacaniana
Grupo de leitura aberto ao público e gratuito
Inscrição: Doação de 5 quilos de alimento não perecível
Horário: Sexta-feira às 14h30
Previsão de encontros quinzenais – 13/03– 27/03 – 10/04 –24/04 –08/05 – 22/05 – 05/06 –19/06 – 03/07
Duração: 3h00
Av: Floriano Peixoto, 615, sala 304 – Centro Uberlândia
Para participar entrar em contato com André Cabral (34) 98872-0297
Bibliografia suplementar
Durkheim,É. (1983). O suicídio. In: Durkheim. São Paulo, SP: Ed Abril Cultural.
Foucault,M. (2010) Os anormais. São Paulo:Martins Fontes.
Freud,S. (1996). Totem e tabu. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (V13,pp.13-168) Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1913).
Freud, S. (1996). A dissolução do complexo de Édipo. In Freud, S. [Autor], Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. XIX. Rio de Janeiro: Imago.(Original publicado em 1924)
Lacan,J. (2003). Os complexos familiares na formação do indivíduo. In J, Lacan: Outros escritos (pp.29-90). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Obra original publicada em 1938)
Lacan,J. (1998). O seminário sobre ‘A carta roubada’. Em Lacan, J. Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 13-68). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original publicado em 1957).
Lacan,J. (1998). A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In: Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 496-533). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original publicado em 1957).
Lacan, J. (1995). O Seminário,livro 4: a relação de objeto. (D. D. Estrada, trad.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar.(Lições originalmente pronunciadas em 1953-1954).
Lacan, J. (1999). O Seminário,livro 5: as formações do inconsciente. (V. Ribeiro, Trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Lições originalmente pronunciadas em 1957-1958).
Lévi-Strauss, C. Antropologia estrutural(2003). Ed3. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro.
Saussure, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix.
André Cabral é psicanalista e faz atendimento clínico na cidade de Uberlândia e Araguari. É docente no curso de Psicologia da Faculdade do Trabalho (FATRA). Atende adolescentes, adultos e idosos frente aos mais diversos sintomas e sofrimentos psíquicos. Trabalha, ainda, com atendimento a casais e apoio voltado para a “orientação profissional” de adolescentes. Atualmente é doutorando em estudos psicanalíticos pelo programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem interesse na interlocução entre psicanálise e cinema, literatura, teatro e política.
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